A Revolução Russa de 1917 foram dois levantes populares: o primeiro ocorrido em fevereiro, contra o governo do czar Nicolau II, e o segundo, em outubro.
Na Revolução de Fevereiro, os revolucionários aboliram a monarquia e, na Revolução de Outubro, começaram a implantar um regime de governo baseado em ideias socialistas.
Causas da Revolução Russa: contexto histórico
Na Rússia, durante o século XIX, a falta de liberdade era quase absoluta.
No campo, reinava uma forte tensão social, devido à grande concentração de terras na mão da nobreza. A Rússia foi o último país a abolir a servidão, em 1861 e em muitos lugares, continuava-se com o sistema de produção feudal.
A reforma agrária promovida pelo czar Alexandre II (1855-1881), pouco adiantou para aliviar as tensões no campo. O regime czarista reprimia a oposição e a Ochrana, polícia política, controlava o ensino, a imprensa e os tribunais.
Milhares de pessoas eram enviadas ao exílio na Sibéria condenadas por crimes políticos. Capitalistas e latifundiários mantinham o domínio sobre os trabalhadores urbanos e rurais.
No governo do czar Nicolau II (1894-1917), a Rússia acelerou seu processo de industrialização aliada ao capital estrangeiro. Os operários concentraram-se em grandes centros como Moscou e São Petersburgo.
Apesar disso, as condições de vida pioraram, com a fome, o desemprego e a diminuição dos salários. A burguesia também não era beneficiada, pois o capital estava concentrado nas mãos dos banqueiros e dos grandes empresários.
A oposição ao governo crescia. Um dos maiores partidos de oposição era o Partido Social Democrata, mas seus líderes, Plekhanov e Lenin, tinham que viver fora da Rússia para fugir das perseguições políticas.
O Partido Operário Social-Democrata Russo era crítico com a política do país. Porém, as divergiam de como solucionar os problemas da Rússia. Isto acabou por dividi-lo em duas correntes:
Bolcheviques (maioria, em russo), liderados por Lenin, defendiam a ideia revolucionária da luta armada para chegar ao poder.
Mencheviques (minoria, em russo), liderados por Plekhanov, defendiam a ideia evolucionista de se conquistar o poder através de vias normais e pacíficas como, por exemplo, as eleições.
Revolução de 1917: Antecedentes
Em janeiro de 1905, um grupo de operários participava de uma manifestação pacífica em frente ao Palácio de Inverno de São Petersburgo, uma das sedes do governo. O objetivo era entregar um abaixo assinado ao czar, pedindo melhorias.
A guarda do palácio, assustada com a multidão, abriu fogo matando mais de mil pessoas. O episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento e provocou uma onda de protestos em todo o país.
Aspecto do tiroteio cometido pelas tropas czaristas aos manifestantes
Diante da pressão revolucionária, o czar promulgou uma Constituição e permitiu a convocação de eleições para a Duma (Parlamento). A Rússia tornava-se assim uma monarquia constitucional, embora o czar ainda concentrasse grande poder, e o Parlamento tivesse uma atuação limitada.
Na realidade, o governo ganhou tempo e organizou as reações contra as agitações sociais e os sovietes. Estes eram assembleias de operários, soldados ou camponeses que se organizaram após a Revolução de 1905. Mais tarde teriam um papel essencial da Revolução de 1917.
Ainda em 1905, outro fator de descontentamento foi a derrota na guerra Russo-japonesa. A Rússia perdeu o conflito para o Japão que era considerado um povo inferior e teve que ceder algumas ilhas para este país.
Atuação da Rússia na Primeira Guerra Mundial
Durante a Primeira Guerra Mundial, como membro da Tríplice Entente, a Rússia lutou ao lado da Inglaterra e da França, contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro.
No entanto, o exército russo encontrava-se despreparado para o confronto. As consequências foram derrotas em várias batalhas que deixaram a Rússia enfraquecida e economicamente desorganizada.
Em março, o movimento revolucionário foi deflagrado, com greves se iniciando em São Petersburgo e que se espalharam por vários centros industriais. Os camponeses também se rebelaram.
A maior parte dos militares aderiu aos revolucionários e força a abdicação do czar Nicolau II, em fevereiro de 1917.
Revolução de Fevereiro e Outubro de 1917
Lenin discursa para um grupo de soldados
Após a abdicação do czar, forma-se um Governo Provisório, sob a chefia de Kerensky, que se veria envolvido em disputas entre liberais e socialistas.
Sofrendo pressões dos sovietes, o governo concedeu anistia aos prisioneiros e exilados políticos. De volta à Rússia, os bolcheviques, liderados por Lenin e Trotsky, organizaram um congresso onde defendiam lemas como: “Paz, terra e pão” e “Todo o poder aos sovietes”.
No dia 7 de novembro (25 de outubro no calendário gregoriano), operários e camponeses, sob a liderança de Lenin, tomaram o poder. Os bolcheviques distribuíram as terras entre os camponeses e estatizaram os bancos, as estradas de ferro e as indústrias, que passaram para o controle dos operários.
Consequências da Revolução Russa
A Rússia se retira da Primeira Guerra
O primeiro ato importante do novo governo foi retirar a Rússia da guerra. Para isso, em fevereiro de 1918, foi assinado o Tratado de Brest-Litovsk com as Potências Centrais.
Este determinava a entrega da Finlândia, Países Bálticos, Polônia, Ucrânia e Bielorrússia, além de distritos no Império Otomano e na região da Geórgia.
Guerra civil na Rússia
Os quatro primeiros anos de governo bolchevique foram marcados por uma guerra civil que abalou profundamente o país.
Igualmente, para evitar qualquer tentativa de restauração monárquica, o czar Nicolau II e sua família foram assassinados sem qualquer tipo de julgamento, em julho de 1918.
O Exército Vermelho, criado por Leon Trotsky, derrotou o Exército Branco, formado por nobres e burgueses, garantindo a permanência dos bolcheviques no poder. A revolução estava salva, mas a paralisação econômica era quase total.
Para restaurar a confiança no governo, foi criada a NEP (Nova Política Econômica), que permitia a entrada de capital estrangeiro e o funcionamento de empresas particulares.A aplicação da NEP resultou no crescimento industrial e agrícola da Rússia.
Conclusão da Revolução Russa
Em 1922 foi estabelecida a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), sob liderança de Lenin. Após sua morte, em 1924, iniciou-se uma luta pelo poder entre Trotsky e Stalin.
Derrotado, Trotsky foi expulso do país e, em 1940, foi morto na cidade do México, por um assassino a serviço de Stalin. Sob seu governo, a URSS conheceu uma das mais violentas ditaduras da história, ao mesmo tempo que passava por um crescimento econômico vertiginoso.
Durante a II Guerra Mundial, o país seria um dos principais inimigos do nazismo, aliado dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Após o conflito, seria alçada à condição de segunda potência mundial.
Revolução Russa: resumo
A Revolução Russa, ocorrida em 1917, foram dois levantes populares ocorridos em fevereiro e outubro.
No entanto, a agitação social vinha de longe. Em 1905, manifestantes pediram ao czar Nicolau II melhores condições de vida, mas foram rechaçados à bala. Como consequência, o monarca procurou modernizar o país com eleições para um parlamento (Duma) e uma Constituição.
Com a entrada da Rússia na Primeira Guerra (1914-1917), a situação só piorou. Vários soldados desertaram, oficiais passaram a conspirar contra o czar e este foi deposto através da Revolução de Fevereiro de 1917.
Embora tenham abolido a monarquia, muitos revolucionários achavam que não era suficiente. Assim, um novo golpe é dado, desta vez pelos bolcheviques e camponeses, que instituem um regime mais próximo ao socialismo através da Revolução de Outubro.
O crescimento econômico dos anos 1920 foi bruscamente interrompido pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, dando início a uma longa crise mundial. Nessa época configurou-se a sociedade de massas e surgiram novas formas de lazer.
As mudanças econômicas
O crescimento desigual dos anos 1920
Depois da Primeira Guerra Mundial, a hegemonia econômica deslocou-se da Europa para os Estados Unidos, e Nova York converteu-se no centro financeiro do mundo.
A readaptação da economia europeia à paz foi longa e difícil, devido à destruição provocada pela guerra, pela inflação e pelo aumento do desemprego. A partir de 1923, houve crescimento da produção, declínio do desemprego e melhora do nível de vida nos países da Europa, embora em escala menor do que nos Estados Unidos. A crise de 1929 e sua expansão
Quando o período de expansão econômica nos Estados Unidos terminou bruscamente em 1929, a economia norte-americana tinha um grave problema: dependência excessiva dos créditos. As empresas solicitavam crédito para aumentar a produção, enquanto os consumidores o faziam para comprar bens de consumo e para investir na Bolsa. As primeiras quedas da Bolsa provocaram pânico entre os investidores. Em 24 de outubro, na conhecida “Quinta-Feira Negra”, a Bolsa de Nova York entrou em crise.
A queda do valor dos títulos impediu que muitos acionistas recuperassem o dinheiro que tinham, o que provocou uma série de falências bancárias. A crise se estendeu, pois muitas empresas e pequenos proprietários ficaram arruinados.
Os Estados Unidos repatriaram seus investimentos externos e exigiram o pagamento de seus empréstimos. Por isso, a partir de 1931, a crise se estendeu para a Europa e o restante do mundo. As consequências da crise
O desemprego disparou e a população empobrecia, situação que se prolongou durante grande parte da década de 1930. Os governos se viram obrigados a intervir na economia para diminuir a miséria.0
O plano de recuperação mais importante foi o New Deal (“Novo Acordo”), implantado pelo presidente Franklin Roosevelt. Consistia em uma série de medidas para reforçar a proteção social por parte do governo e fomentar a criação de empregos mediante ajuda à indústria, à agricultura, e às obras públicas. A nova sociedade
A sociedade de massas
Na primeira metade do século XX consolidou-se a sociedade de massas, caracterizada por:
Crescente participação da população na política graças aos meios de comunicação (imprensa, rádio) e à generalização do sufrágio universal.
Melhoria do padrão de vida, que resultou no aparecimento da sociedade de consumo, Houve também melhora na alimentação da maioria da população;
em algumas residências, as pessoas começaram a desfrutar instalações antes reservadas à classe alta, como elevador, calefação, sanitários, luz elétrica e linhas telefônicas.
Surgimento de um novo conceito de lazer, favorecido pela redução da jornada de trabalho. Expandiram-se novos entretenimentos, como o cinema e os esportes de massa.
Uma das mudanças sociais mais significativas foi o início da emancipação feminina: em muitos países, concedeu-se direito de voto às mulheres, que passaram a conquistar cada vez mais espaço no mundo do trabalho. Ao mesmo tempo, houve liberalização dos costumes femininos.
Uma época de utopias e radicalismo
Ao final da Primeira Guerra Mundial, a democracia parecia ter triunfado na Europa. Ao longo do período entre esse conflito e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o povo de vários países desencantou-se com a democracia.
Houve uma polarização das posições políticas: grande parte do operariado optou pela revolução, enquanto outra parte da sociedade, principalmente as classes médias, defendeu governos fortes, ultranacionalistas e anticomunistas. Em alguns países essa divisão provocou conflitos. Foi o caso da Espanha, onde, depois da guerra civil (1936-1939), instaurou-se a ditadura do general Francisco Franco.
Liberalismo — Doutrina baseada na defesa da liberdade individual, nos campos eco- nômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder estatal.
Positivismo — Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857), que se propõe a ordenar as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas
OS TRATADOS DE 1810
Em 1807, não suportando as pressões do governo de Napoleão Bonaparte, D. João VI decide traçar um plano de fuga que transferiria a Família Real Portuguesa para o Brasil. Para que tal ação fosse assegurada, o acuado monarca lusitano recorreu à Inglaterra para que esta fornecesse navios que escoltassem a viagem que atravessaria o Atlântico. Além de participar da transferência, os ingleses também se comprometeram a dispor de suas tropas para combater os exércitos franceses que invadiriam Portugal.
De fato, toda essa solicitude manifestada aos lusitanos não aconteceria de forma gratuita. A ajuda da Inglaterra foi somente obtida à custa de um compromisso no qual D. João VI garantia realizar a abertura dos portos brasileiros para nações estrangeiras. Essa medida era de grande interesse para Inglaterra, que pretendia promover a rápida dominação do mercado consumidor brasileiro. Não por acaso, algumas medidas já foram tomadas assim que a Família Real chega ao Brasil.
Em 28 de janeiro de 1808, ano que marca a chegada de Dom João VI, já é oficializado um primeiro decreto em que os portos brasileiros estariam autorizados a receber os navios das “nações amigas”. Logo em seguida, no primeiro dia do mês de abril, um novo documento estabeleceu que o alvará de 5 de janeiro de 1785, que determinava a proibição de manufaturas no Brasil, fosse anulado. Com isso, os comerciantes brasileiros poderiam instalar indústrias no país.
Apesar de benéfica, essa ação não viabilizou o desenvolvimento concreto da atividade industrial. A Inglaterra, já nessa época, iniciou a dominação do mercado consumidor brasileiro com uma enxurrada de produtos. Com isso, seria praticamente impossível que algum mercador ou comerciante local tivesse interesse ou condições de dispor investimentos que pudessem competir com a qualidade e o preço das mercadorias britânicas.
Para sacramentar essa mudança no cenário econômico brasileiro, autoridades portuguesas e lusitanas realizaram, em 1810, a assinatura do “Treaty of Cooperation and Friendship” (Tratado de Cooperação e Amizade). Esse acordo confirmou a liberação dos portos brasileiros para as demais nações do mundo. Sob o ponto de vista histórico, a assinatura desse termo simbolizava a vitória da doutrina econômica liberal sobre as antigas diretrizes do mercantilismo.
A vantagem obtida pelos ingleses nesse acordo ficava claramente percebida nas alíquotas alfandegárias que foram determinadas. Segundo o documento, os ingleses pagariam 15% de imposto sobre as mercadorias que desembarcassem nos portos brasileiros. Em contrapartida, os navios portugueses se submeteriam ao valor de 16% de imposto e as outras nações estrangeiras ficariam com um tributo de 24%. Estava assim garantida a hegemonia britânica sobre a economia tupiniquim.
Outro ponto bastante polêmico desse tratado também discutia a relação jurídica entre portugueses e ingleses. Pelo documento, qualquer inglês que fosse incriminado em terras portuguesas só poderia ser julgado sob a presença de uma autoridade britânica e com base nas leis de seu país de origem. Em contrapartida, se um português fosse acusado em terras inglesas, teria de confiar nas diretrizes e autoridades da própria justiça inglesa.
Os reflexos desse tratado foram bastante distintos de acordo com os interesses de cada uma das nações a serem consideradas. Para o Brasil, a abertura dinamizou a economia, estabeleceu o acesso a novas mercadorias e diminuiu o custo de vida. Para os portugueses, essa decisão representava o fim dos amplos lucros obtidos com a sua mais lucrativa colônia. Por fim, aos ingleses, essa seria uma importante conquista econômica que garantiu o incremento de sua receita.
Durante quase todo o século XIX o principal produto de exportação brasileiro foi o café. Seu desenvolvimento foi estimulado pela crescente procura por este produto no mercado internacional e por novas técnicas de industrialização e de transporte. A economia cafeeira foi acompanhada pela transição do trabalho escravo para trabalho livre, pela imigração em massa e pelo surto industrial causado pela Tarifa Alves Branco.
Tarifa proposta e elaborada pelo então Ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco visando solucionar o grande déficit financeiro pelo qual o país estava passando. Assinada em 1844, estabelecia que cerca de três mil artigos importados passariam a pagar taxas que variavam de 20 a 60%. A maioria foi taxada em 30%, ficando as tarifas mais altas, entre 40% e 60%, para as mercadorias estrangeiras que já poderiam ser produzidas no Brasil. Para as mercadorias muito usadas na época, necessárias ao consumo interno, foram estabelecidas taxas de 20%.
Desenvolveu-se inicialmente nas proximidades da cidade do Rio de Janeiro e dali se expandiu para o vale do Rio Paraíba do Sul. Esta região fluminense liderou a produção cafeeira entre 1830 e 1880, período em que se repetiu a estrutura produtiva utilizada no ciclo açucareiro: latifúndio monocultor e escravista. Também se verifica nesta fase o predomínio de uma mentalidade tradicional e de uma ideologia monarquista.
A partir da década de 1870 o interior paulista passa a liderar a produção e a exportação do café. Surge nesta região uma nova mentalidade nas elites rurais, marcadamente empresarial. O lucro do café passa a ser investido em atividades diversificadas, tais como, a indústria têxtil, o transporte ferroviário (trens e bondes), companhias de iluminação a gás e até no mercado de ações. Muda também ideologia política, pois nesta região se manifestam as primeiras propostas republicanas.
Portanto, verifica-se nas décadas de 1850 a 1870, na chamada fase do Vale do Paraíba, uma tendência econômica de restauração e fortalecimento da estrutura agro-exportadora e escravista, associada a uma tendência política de apoio ao regime monárquico. Já nos anos 1880, na fase do “Oeste Paulista” a tendência predominante na economia é a articulação entre café e os investimentos industriais (bens de consumo), associado a uma tendência política de oposição à monarquia, o que daria surgimento ao Partido Republicano (1871).
Paralelamente à “marcha do café” a escravidão declina em todo o mundo. No Brasil, o fim da escravidão teve caráter gradativo devido ao interesse das elites rurais em adiar ao máximo a abolição.
O primeiro passo jurídico para o fim da escravidão foi a proibição do tráfico negreiro, determinado pela Lei Eusébio de Queiróz (1850), que atende a compromisso com Inglaterra assumido desde o Tratado de Comércio de 1810. O objetivo inglês era aumentar o mercado consumidor,ao deslocar capital de compra de escravos para compra de bens industriais.A principal consequência da Lei foi o crescimento da imigração européia para acompanhar a expansão das fazendas de café.
A pressão inglesa pelo aumento do mercado consumidor contribui para a luta dos abolicionistas da classe média, mas os escravos também pressionam pelo fim da escravidão, através de fugas em massa. Quando finalmente foi abolida, em 1888, apenas 5% dos trabalhadores ainda eram escravos no Brasil, ao passo que esta marca era de 60% no ano da independência (1822).
Os empresários do café não esperaram a Abolição para fazer uso do trabalho assalariado nas suas fazendas. A expansão do café e o fim do Tráfico Negreiro constituíram-se no principal fator interno de estímulo à imigração européia no final do século XIX. O principal fator externo que impulsionou a imigração foi o conjunto de guerras de unificação na Itália e na Alemanha de meados do século XIX. Em seus primeiros momentos a imigração foi de caráter privado, organizado pelos próprios fazendeiros, o que gerou o endividamento dos colonos europeus e até o uso de práticas escravistas no trato com trabalhadores livres. A partir da década de 1870, o Estado brasileiro subsidiou a viagem dos imigrantes atacou a mentalidade ainda escravista e fazendeiros do café.
Política Interna
As primeiras décadas do Brasil independente (entre 1822 a 1848) foram marcadas por grande instabilidade política devido às revoltas regionais. As elites provinciais se rebelaram na Confederação do Equador (Nordeste, 1824), na Farroupilha (Sul, 1835-1845) e na Revolução Praieira (Pernambuco, 1848). Os setores populares se rebelaram na Cabanagem, Sabinada, na Revolta dos Malês e Balaiada, no período regencial (1831-1840), além de aderirem também à Praieira. Os dirigentes do Império procuraram ao mesmo tempo, controlar os levantes populares (por meio da repressão) e convencer as elites a aderir à monarquia centralizada de Pedro II.
O principal instrumento de atração das elites foi o oferecimento da participação censitária no sistema partidário. Primeiro era preciso superar as rivalidades partidárias que caracterizaram o período anterior (fechamento da Constituinte (1824), Golpe da Maioridade (1840) e Revolução Liberal de 1842).
A solução encontrada foi a criação do parlamentarismo monárquico, pelo qual o Rei garantia o revezamento a liberais e conservadores no controle do Executivo.
Outro instrumento de adesão foi a criação da Guarda Nacional, que permitia aos latifundiários o controle militar de sua região. Além disto, Pedro II distribuiu fartamente títulos de nobreza aos membros da elite (18 por ano). O nome de duque, conde e barão conferia o status e a compensação simbólica pelo esvaziamento do poder local, em favor da Monarquia.
Paralelamente a este processo político, a Monarquia conduziu um interessante processo cultural e intelectual de criação de uma identidade ideológica à elite nacional.
Antes de tudo era necessário convencer as oligarquias regionais de que elas eram brasileiras e de que tal fato era positivo, seguro e digno de orgulho.
“Em outras palavras, para ser viável, o Império deveria não só se impor pela força, como também por boas instituições e de uma identidade coletiva que justificasse a razão de ser da nação que estava se formando.”
Em 1838 foi fundado o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro com a missão principal de debater e formular o caráter nacional brasileiro. Intelectuais, poetas, romancistas e jornalistas integrantes do IHGB (que contou com a participação assídua do próprio Dom Pedro II) enveredaram pela teoria das três raças, segundo a qual a especificidade do Brasil seria a fusão civilizatória operado pelo branco (português) sobre o índio e o negro.
Afinal se apenas o elemento branco fosse considerado essencial, não se justificaria a separação de Brasil e Portugal, na mentalidade de nossa elite branca. A crença que se formou neste debate, conduzido ironicamente por um pesquisador alemão chamado Von Martius, era a de que o elemento índio significava um fator diferenciador e fundamental.
“Segundo tal interpretação, o que faria do Brasil uma sociedade positivamente diferente de Portugal não seria a presença africana, mas sim a dos indígenas (...) considerados como ruínas de povos, ou seja, descendentes de uma antiga civilização que teria migrado para o Novo Mundo e entrado em decadência, regredindo ao estado se selvageria”
Caberia ao elemento branco integrar e reativar a civilidade do indígena. O romantismo concretiza esta tese, a de que o índio representaria a nobreza de espírito preservada pelos séculos, a espera do contato com o branco (ver O Guarani, José de Alencar).
Esta crença teria múltiplas vantagens para o projeto de dominação branca no Brasil. Em primeiro lugar desfazia o receio de que o branco em meio a índios e negros vivenciaria um retrocesso. “se os portugueses eram a única fonte de comportamento civilizado – segundo a crença racista da época – quais seriam os resultados do rompimento com a metrópole? Haveria um retrocesso? Assumir uma identidade não-branca, no mínimo abalaria a autoestima da nova nação. Afinal, qual seriam as razões para os brasileiros se orgulharem de serem brasileiros?” .
Em segundo lugar, esta interpretação esvaziaria a legitimidade de todas as rebeliões regenciais, pois todo o território já estaria unido culturalmente por esta fusão das raças e, assim, não teria sentido separar ou revoltar-se contra a sua própria identidade.
Faltava definir o elemento negro. Ou melhor, segundo as teorias racistas em moda, faltava desfazer o elemento negro. A presença dos descendentes africanos era visto como ameaça à ordem e à civilização.
A revolta negra do Haiti (1804) estava viva na mente das oligarquias, para as quais era necessário combater as práticas culturais negras. Havia o medo da africanização dos costumes, ou seja, “o medo da importação de escravos que, segundo as visões preconceituosas da época, além de ser um risco para a segurança pública, afastava o Brasil das rotas da civilização”. O fim do Tráfico Negreiro (Lei Eusébio de Queiróz, 1850) aliviava este medo e a imigração em massa de europeus, na segunda metade do século XIX atendia explicitamente ao projeto de embranquecimento da cultura, não apenas à necessidade se substituir a mão de obra escrava nos cafezais.
Política Externa
O jogo de interesses na região platina foi administrado por um complexo sistema de alianças políticas que tinha o Uruguai como principal ponto de atuação. As eleições presidenciais do Uruguai, durante o século XIX, foram disputadas por dois partidos das suas elites econômicas: o Colorados – que contavam com o apoio do Brasil – e os Blancos, apoiados pelo Paraguai.
Por duas vezes o Brasil invadiu o Uruguai para defender seus interesses regionais, derrubando os blancos do poder em 1861 e 1864. A última intervenção brasileira foi entendida pelo Paraguai como inaceitável, pois ameaçava sua economia e a navegação pelo Prata. Como retaliação o Paraguai atacou um navio brasileiro e invadiu partes do território do Mato Grosso, Rio Grande do Sul e da Argentina. Este foi o início da chamada Guerra da Tríplice Aliança (Argentina, Uruguai e Brasil contra o Paraguai).
Paralelamente, a Inglaterra forneceu grande empréstimo ao Brasil e também à Argentina para financiar e armar estes dois países contra o Paraguai, único país da América do Sul que resistia ao imperialismo inglês. O Paraguai, independente da Espanha desde 1811, já possuía sua própria indústria têxtil e metalúrgica. Seus presidentes contavam com grande popularidade por terem realizado a reforma agrária e terem criado um sistema de ensino público.
Havia, portanto, um aspecto muito singular na situação histórica e social do Paraguai. Sua economia estava longe de ser uma potência, mas preocupava á Inglaterra e aos países vizinhos.
Sua autonomia econômica derivava de seu passado colonial. Nunca foi uma prioridade para o colonizador espanhol e, portanto, não conheceu o sistema de plantation, nem a exploração mineradora. Foi relegada à experiência missionária dos jesuítas, que concentraram ali a maior parte de suas Missões.
Houve desta forma, a sobrevivência de costumes do povo guarani e a diferenciação em relação aos vizinhos. Uma vez independente, o Paraguai organizou e modernizou sua economia para se defender das tendências expansionistas da Argentina e do Brasil, que já tinha criado na região um estado em 1808 (A Província Cisplatina)
“Apesar desses esforços "modernizantes", não há indicações de empenho dos dirigentes paraguaios em romper com o mundo tradicional herdado da época colonial. Talvez, a afirmação contrária seja a mais próxima da realidade. Nesse sentido, a reação de Francisco Solano López, em 1864, dois anos após ter sucedido o pai no poder, é bastante esclarecedora: os ataques à parte da Argentina, assim como ao sul de Mato Grosso e ao Rio Grande do Sul, de certa maneira, devolviam aos paraguaios a área de domínio das missões jesuíticas antes da expulsão no século XVIII. Portanto, a não ser do ponto de vista de retorno ao passado, é pouco provável que o Paraguai representasse um modelo alternativo para os demais países da América Latina. O que não significava que as decisões do governo local agradassem aos ingleses.”
O que surpreendeu o mundo foi a capacidade do Paraguai de suportar quase seis anos de ataques sucessivos, no conflito mais sangrento da história da América do Sul. A resistência paraguaia, baseada no apoio popular ao governo de Solano Lopez, obrigou o Brasil a uma profunda reorganização de suas forças armadas.
Simplesmente não havia um exército bem estruturado, pois a segurança interna fora transferida à Guarda Nacional, criada em 1830 e colocada sob o controle dos latifundiários, o que daria a origem à figura do fazendeiro-coronel, ainda hoje presente na mentalidade brasileira.
O Brasil improvisou um exército e a primeira medida neste sentido foi a criação do Corpo de Voluntários da Pátria (1865). Ofereciam-se vantagens como pagamento em dobro, indenização aos familiares gratificações. Mas este sistema trouxe dois problemas: os voluntários não tinham qualquer preparação anterior e seu número ficou muito abaixo do necessário. Dos 120 mil combatentes da Guerra, 54 mil foram do Corpo de Voluntários.
O governo brasileiro recorreu então ao recrutamento obrigatório, utilizando medidas esdrúxulas: prisões foram esvaziadas, assim como crianças e vadios eram caçados pelas ruas das principais cidades brasileiras.
“No Rio de Janeiro, por exemplo, as autoridades locais colocaram, no ano de 1864, 116 meninos, menores de dezesseis anos, à disposição da armada; um ano mais tarde, essa cifra foi de 269 recrutas. Pelo menos metade desse contingente havia sido recolhida nas ruas da capital brasileira, dando origem a centenas de ofícios nos quais as famílias solicitavam às autoridades a devolução do filho recrutado à força.
Nem mesmo meninos escravos, "propriedades" alheias, conseguiam escapar a esse furor. Havia ainda duas outras origens problemáticas dos voluntários da pátria. Uma delas dizia respeito aos escravos que sentavam praça usando nomes falsos, legitimando um projeto de fuga e garantindo casa e comida nas fileiras do exército.
A outra, decorria de uma antiga prática que consistia em pagar certa quantia, ou apresentar um escravo-substituto, de si mesmo ou do filho recrutado, eximindo-se assim das fileiras do exército (...).
Não sem razão, as tropas brasileiras, em boa parte formadas por escravos, menores abandonados e criminosos, eram descritas como um bando de famintos, aventureiros e aproveitadores de toda espécie. Como se não bastassem esses graves problemas, Alfredo d'Escragnolle Taunay também indica a presença de mulheres nos campos de batalha, carregando crianças de peito ou pouco mais velhas; mulheres que traziam no rosto os estigmas do sofrimento e da extrema miséria e atendiam por nomes que as remetiam a grupos sociais de origem humilde, como o caso das Ana Preta, Ana Mamuda ou Joana Rita dos Impossíveis. Assim, enquanto os homens entregavam-se ao roubo, jogatina e comércio, suas companheiras voltavam-se para o saque, apoderando-se de mantos e ponchos de paraguaios mortos, ou sobreviviam graças à prostituição, Havia ainda casos limite como o de certa Maria Curupaiti, que, aos 13 anos, disfarçada de homem, foi aceita como voluntário da pátria, falecendo em combate”
Liberalismo — Doutrina baseada na defesa da liberdade individual, nos campos eco- nômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder estatal.
Positivismo — Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857), que se propõe a ordenar as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas
OS TRATADOS DE 1810
Em 1807, não suportando as pressões do governo de Napoleão Bonaparte, D. João VI decide traçar um plano de fuga que transferiria a Família Real Portuguesa para o Brasil. Para que tal ação fosse assegurada, o acuado monarca lusitano recorreu à Inglaterra para que esta fornecesse navios que escoltassem a viagem que atravessaria o Atlântico. Além de participar da transferência, os ingleses também se comprometeram a dispor de suas tropas para combater os exércitos franceses que invadiriam Portugal.
De fato, toda essa solicitude manifestada aos lusitanos não aconteceria de forma gratuita. A ajuda da Inglaterra foi somente obtida à custa de um compromisso no qual D. João VI garantia realizar a abertura dos portos brasileiros para nações estrangeiras. Essa medida era de grande interesse para Inglaterra, que pretendia promover a rápida dominação do mercado consumidor brasileiro. Não por acaso, algumas medidas já foram tomadas assim que a Família Real chega ao Brasil.
Em 28 de janeiro de 1808, ano que marca a chegada de Dom João VI, já é oficializado um primeiro decreto em que os portos brasileiros estariam autorizados a receber os navios das “nações amigas”. Logo em seguida, no primeiro dia do mês de abril, um novo documento estabeleceu que o alvará de 5 de janeiro de 1785, que determinava a proibição de manufaturas no Brasil, fosse anulado. Com isso, os comerciantes brasileiros poderiam instalar indústrias no país.
Apesar de benéfica, essa ação não viabilizou o desenvolvimento concreto da atividade industrial. A Inglaterra, já nessa época, iniciou a dominação do mercado consumidor brasileiro com uma enxurrada de produtos. Com isso, seria praticamente impossível que algum mercador ou comerciante local tivesse interesse ou condições de dispor investimentos que pudessem competir com a qualidade e o preço das mercadorias britânicas.
Para sacramentar essa mudança no cenário econômico brasileiro, autoridades portuguesas e lusitanas realizaram, em 1810, a assinatura do “Treaty of Cooperation and Friendship” (Tratado de Cooperação e Amizade). Esse acordo confirmou a liberação dos portos brasileiros para as demais nações do mundo. Sob o ponto de vista histórico, a assinatura desse termo simbolizava a vitória da doutrina econômica liberal sobre as antigas diretrizes do mercantilismo.
A vantagem obtida pelos ingleses nesse acordo ficava claramente percebida nas alíquotas alfandegárias que foram determinadas. Segundo o documento, os ingleses pagariam 15% de imposto sobre as mercadorias que desembarcassem nos portos brasileiros. Em contrapartida, os navios portugueses se submeteriam ao valor de 16% de imposto e as outras nações estrangeiras ficariam com um tributo de 24%. Estava assim garantida a hegemonia britânica sobre a economia tupiniquim.
Outro ponto bastante polêmico desse tratado também discutia a relação jurídica entre portugueses e ingleses. Pelo documento, qualquer inglês que fosse incriminado em terras portuguesas só poderia ser julgado sob a presença de uma autoridade britânica e com base nas leis de seu país de origem. Em contrapartida, se um português fosse acusado em terras inglesas, teria de confiar nas diretrizes e autoridades da própria justiça inglesa.
Os reflexos desse tratado foram bastante distintos de acordo com os interesses de cada uma das nações a serem consideradas. Para o Brasil, a abertura dinamizou a economia, estabeleceu o acesso a novas mercadorias e diminuiu o custo de vida. Para os portugueses, essa decisão representava o fim dos amplos lucros obtidos com a sua mais lucrativa colônia. Por fim, aos ingleses, essa seria uma importante conquista econômica que garantiu o incremento de sua receita.
Durante quase todo o século XIX o principal produto de exportação brasileiro foi o café. Seu desenvolvimento foi estimulado pela crescente procura por este produto no mercado internacional e por novas técnicas de industrialização e de transporte. A economia cafeeira foi acompanhada pela transição do trabalho escravo para trabalho livre, pela imigração em massa e pelo surto industrial causado pela Tarifa Alves Branco.
Tarifa proposta e elaborada pelo então Ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco visando solucionar o grande déficit financeiro pelo qual o país estava passando. Assinada em 1844, estabelecia que cerca de três mil artigos importados passariam a pagar taxas que variavam de 20 a 60%. A maioria foi taxada em 30%, ficando as tarifas mais altas, entre 40% e 60%, para as mercadorias estrangeiras que já poderiam ser produzidas no Brasil. Para as mercadorias muito usadas na época, necessárias ao consumo interno, foram estabelecidas taxas de 20%.
Desenvolveu-se inicialmente nas proximidades da cidade do Rio de Janeiro e dali se expandiu para o vale do Rio Paraíba do Sul. Esta região fluminense liderou a produção cafeeira entre 1830 e 1880, período em que se repetiu a estrutura produtiva utilizada no ciclo açucareiro: latifúndio monocultor e escravista. Também se verifica nesta fase o predomínio de uma mentalidade tradicional e de uma ideologia monarquista.
A partir da década de 1870 o interior paulista passa a liderar a produção e a exportação do café. Surge nesta região uma nova mentalidade nas elites rurais, marcadamente empresarial. O lucro do café passa a ser investido em atividades diversificadas, tais como, a indústria têxtil, o transporte ferroviário (trens e bondes), companhias de iluminação a gás e até no mercado de ações. Muda também ideologia política, pois nesta região se manifestam as primeiras propostas republicanas.
Portanto, verifica-se nas décadas de 1850 a 1870, na chamada fase do Vale do Paraíba, uma tendência econômica de restauração e fortalecimento da estrutura agro-exportadora e escravista, associada a uma tendência política de apoio ao regime monárquico. Já nos anos 1880, na fase do “Oeste Paulista” a tendência predominante na economia é a articulação entre café e os investimentos industriais (bens de consumo), associado a uma tendência política de oposição à monarquia, o que daria surgimento ao Partido Republicano (1871).
Paralelamente à “marcha do café” a escravidão declina em todo o mundo. No Brasil, o fim da escravidão teve caráter gradativo devido ao interesse das elites rurais em adiar ao máximo a abolição.
O primeiro passo jurídico para o fim da escravidão foi a proibição do tráfico negreiro, determinado pela Lei Eusébio de Queiróz (1850), que atende a compromisso com Inglaterra assumido desde o Tratado de Comércio de 1810. O objetivo inglês era aumentar o mercado consumidor,ao deslocar capital de compra de escravos para compra de bens industriais.A principal consequência da Lei foi o crescimento da imigração européia para acompanhar a expansão das fazendas de café.
A pressão inglesa pelo aumento do mercado consumidor contribui para a luta dos abolicionistas da classe média, mas os escravos também pressionam pelo fim da escravidão, através de fugas em massa. Quando finalmente foi abolida, em 1888, apenas 5% dos trabalhadores ainda eram escravos no Brasil, ao passo que esta marca era de 60% no ano da independência (1822).
Os empresários do café não esperaram a Abolição para fazer uso do trabalho assalariado nas suas fazendas. A expansão do café e o fim do Tráfico Negreiro constituíram-se no principal fator interno de estímulo à imigração européia no final do século XIX. O principal fator externo que impulsionou a imigração foi o conjunto de guerras de unificação na Itália e na Alemanha de meados do século XIX. Em seus primeiros momentos a imigração foi de caráter privado, organizado pelos próprios fazendeiros, o que gerou o endividamento dos colonos europeus e até o uso de práticas escravistas no trato com trabalhadores livres. A partir da década de 1870, o Estado brasileiro subsidiou a viagem dos imigrantes atacou a mentalidade ainda escravista e fazendeiros do café.
Política Interna
As primeiras décadas do Brasil independente (entre 1822 a 1848) foram marcadas por grande instabilidade política devido às revoltas regionais. As elites provinciais se rebelaram na Confederação do Equador (Nordeste, 1824), na Farroupilha (Sul, 1835-1845) e na Revolução Praieira (Pernambuco, 1848). Os setores populares se rebelaram na Cabanagem, Sabinada, na Revolta dos Malês e Balaiada, no período regencial (1831-1840), além de aderirem também à Praieira. Os dirigentes do Império procuraram ao mesmo tempo, controlar os levantes populares (por meio da repressão) e convencer as elites a aderir à monarquia centralizada de Pedro II.
O principal instrumento de atração das elites foi o oferecimento da participação censitária no sistema partidário. Primeiro era preciso superar as rivalidades partidárias que caracterizaram o período anterior (fechamento da Constituinte (1824), Golpe da Maioridade (1840) e Revolução Liberal de 1842).
A solução encontrada foi a criação do parlamentarismo monárquico, pelo qual o Rei garantia o revezamento a liberais e conservadores no controle do Executivo.
Outro instrumento de adesão foi a criação da Guarda Nacional, que permitia aos latifundiários o controle militar de sua região. Além disto, Pedro II distribuiu fartamente títulos de nobreza aos membros da elite (18 por ano). O nome de duque, conde e barão conferia o status e a compensação simbólica pelo esvaziamento do poder local, em favor da Monarquia.
Paralelamente a este processo político, a Monarquia conduziu um interessante processo cultural e intelectual de criação de uma identidade ideológica à elite nacional.
Antes de tudo era necessário convencer as oligarquias regionais de que elas eram brasileiras e de que tal fato era positivo, seguro e digno de orgulho.
“Em outras palavras, para ser viável, o Império deveria não só se impor pela força, como também por boas instituições e de uma identidade coletiva que justificasse a razão de ser da nação que estava se formando.”
Em 1838 foi fundado o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro com a missão principal de debater e formular o caráter nacional brasileiro. Intelectuais, poetas, romancistas e jornalistas integrantes do IHGB (que contou com a participação assídua do próprio Dom Pedro II) enveredaram pela teoria das três raças, segundo a qual a especificidade do Brasil seria a fusão civilizatória operado pelo branco (português) sobre o índio e o negro.
Afinal se apenas o elemento branco fosse considerado essencial, não se justificaria a separação de Brasil e Portugal, na mentalidade de nossa elite branca. A crença que se formou neste debate, conduzido ironicamente por um pesquisador alemão chamado Von Martius, era a de que o elemento índio significava um fator diferenciador e fundamental.
“Segundo tal interpretação, o que faria do Brasil uma sociedade positivamente diferente de Portugal não seria a presença africana, mas sim a dos indígenas (...) considerados como ruínas de povos, ou seja, descendentes de uma antiga civilização que teria migrado para o Novo Mundo e entrado em decadência, regredindo ao estado se selvageria”
Caberia ao elemento branco integrar e reativar a civilidade do indígena. O romantismo concretiza esta tese, a de que o índio representaria a nobreza de espírito preservada pelos séculos, a espera do contato com o branco (ver O Guarani, José de Alencar).
Esta crença teria múltiplas vantagens para o projeto de dominação branca no Brasil. Em primeiro lugar desfazia o receio de que o branco em meio a índios e negros vivenciaria um retrocesso. “se os portugueses eram a única fonte de comportamento civilizado – segundo a crença racista da época – quais seriam os resultados do rompimento com a metrópole? Haveria um retrocesso? Assumir uma identidade não-branca, no mínimo abalaria a autoestima da nova nação. Afinal, qual seriam as razões para os brasileiros se orgulharem de serem brasileiros?” .
Em segundo lugar, esta interpretação esvaziaria a legitimidade de todas as rebeliões regenciais, pois todo o território já estaria unido culturalmente por esta fusão das raças e, assim, não teria sentido separar ou revoltar-se contra a sua própria identidade.
Faltava definir o elemento negro. Ou melhor, segundo as teorias racistas em moda, faltava desfazer o elemento negro. A presença dos descendentes africanos era visto como ameaça à ordem e à civilização.
A revolta negra do Haiti (1804) estava viva na mente das oligarquias, para as quais era necessário combater as práticas culturais negras. Havia o medo da africanização dos costumes, ou seja, “o medo da importação de escravos que, segundo as visões preconceituosas da época, além de ser um risco para a segurança pública, afastava o Brasil das rotas da civilização”. O fim do Tráfico Negreiro (Lei Eusébio de Queiróz, 1850) aliviava este medo e a imigração em massa de europeus, na segunda metade do século XIX atendia explicitamente ao projeto de embranquecimento da cultura, não apenas à necessidade se substituir a mão de obra escrava nos cafezais.
Política Externa
O jogo de interesses na região platina foi administrado por um complexo sistema de alianças políticas que tinha o Uruguai como principal ponto de atuação. As eleições presidenciais do Uruguai, durante o século XIX, foram disputadas por dois partidos das suas elites econômicas: o Colorados – que contavam com o apoio do Brasil – e os Blancos, apoiados pelo Paraguai.
Por duas vezes o Brasil invadiu o Uruguai para defender seus interesses regionais, derrubando os blancos do poder em 1861 e 1864. A última intervenção brasileira foi entendida pelo Paraguai como inaceitável, pois ameaçava sua economia e a navegação pelo Prata. Como retaliação o Paraguai atacou um navio brasileiro e invadiu partes do território do Mato Grosso, Rio Grande do Sul e da Argentina. Este foi o início da chamada Guerra da Tríplice Aliança (Argentina, Uruguai e Brasil contra o Paraguai).
Paralelamente, a Inglaterra forneceu grande empréstimo ao Brasil e também à Argentina para financiar e armar estes dois países contra o Paraguai, único país da América do Sul que resistia ao imperialismo inglês. O Paraguai, independente da Espanha desde 1811, já possuía sua própria indústria têxtil e metalúrgica. Seus presidentes contavam com grande popularidade por terem realizado a reforma agrária e terem criado um sistema de ensino público.
Havia, portanto, um aspecto muito singular na situação histórica e social do Paraguai. Sua economia estava longe de ser uma potência, mas preocupava á Inglaterra e aos países vizinhos.
Sua autonomia econômica derivava de seu passado colonial. Nunca foi uma prioridade para o colonizador espanhol e, portanto, não conheceu o sistema de plantation, nem a exploração mineradora. Foi relegada à experiência missionária dos jesuítas, que concentraram ali a maior parte de suas Missões.
Houve desta forma, a sobrevivência de costumes do povo guarani e a diferenciação em relação aos vizinhos. Uma vez independente, o Paraguai organizou e modernizou sua economia para se defender das tendências expansionistas da Argentina e do Brasil, que já tinha criado na região um estado em 1808 (A Província Cisplatina)
“Apesar desses esforços "modernizantes", não há indicações de empenho dos dirigentes paraguaios em romper com o mundo tradicional herdado da época colonial. Talvez, a afirmação contrária seja a mais próxima da realidade. Nesse sentido, a reação de Francisco Solano López, em 1864, dois anos após ter sucedido o pai no poder, é bastante esclarecedora: os ataques à parte da Argentina, assim como ao sul de Mato Grosso e ao Rio Grande do Sul, de certa maneira, devolviam aos paraguaios a área de domínio das missões jesuíticas antes da expulsão no século XVIII. Portanto, a não ser do ponto de vista de retorno ao passado, é pouco provável que o Paraguai representasse um modelo alternativo para os demais países da América Latina. O que não significava que as decisões do governo local agradassem aos ingleses.”
O que surpreendeu o mundo foi a capacidade do Paraguai de suportar quase seis anos de ataques sucessivos, no conflito mais sangrento da história da América do Sul. A resistência paraguaia, baseada no apoio popular ao governo de Solano Lopez, obrigou o Brasil a uma profunda reorganização de suas forças armadas.
Simplesmente não havia um exército bem estruturado, pois a segurança interna fora transferida à Guarda Nacional, criada em 1830 e colocada sob o controle dos latifundiários, o que daria a origem à figura do fazendeiro-coronel, ainda hoje presente na mentalidade brasileira.
O Brasil improvisou um exército e a primeira medida neste sentido foi a criação do Corpo de Voluntários da Pátria (1865). Ofereciam-se vantagens como pagamento em dobro, indenização aos familiares gratificações. Mas este sistema trouxe dois problemas: os voluntários não tinham qualquer preparação anterior e seu número ficou muito abaixo do necessário. Dos 120 mil combatentes da Guerra, 54 mil foram do Corpo de Voluntários.
O governo brasileiro recorreu então ao recrutamento obrigatório, utilizando medidas esdrúxulas: prisões foram esvaziadas, assim como crianças e vadios eram caçados pelas ruas das principais cidades brasileiras.
“No Rio de Janeiro, por exemplo, as autoridades locais colocaram, no ano de 1864, 116 meninos, menores de dezesseis anos, à disposição da armada; um ano mais tarde, essa cifra foi de 269 recrutas. Pelo menos metade desse contingente havia sido recolhida nas ruas da capital brasileira, dando origem a centenas de ofícios nos quais as famílias solicitavam às autoridades a devolução do filho recrutado à força.
Nem mesmo meninos escravos, "propriedades" alheias, conseguiam escapar a esse furor. Havia ainda duas outras origens problemáticas dos voluntários da pátria. Uma delas dizia respeito aos escravos que sentavam praça usando nomes falsos, legitimando um projeto de fuga e garantindo casa e comida nas fileiras do exército.
A outra, decorria de uma antiga prática que consistia em pagar certa quantia, ou apresentar um escravo-substituto, de si mesmo ou do filho recrutado, eximindo-se assim das fileiras do exército (...).
Não sem razão, as tropas brasileiras, em boa parte formadas por escravos, menores abandonados e criminosos, eram descritas como um bando de famintos, aventureiros e aproveitadores de toda espécie. Como se não bastassem esses graves problemas, Alfredo d'Escragnolle Taunay também indica a presença de mulheres nos campos de batalha, carregando crianças de peito ou pouco mais velhas; mulheres que traziam no rosto os estigmas do sofrimento e da extrema miséria e atendiam por nomes que as remetiam a grupos sociais de origem humilde, como o caso das Ana Preta, Ana Mamuda ou Joana Rita dos Impossíveis. Assim, enquanto os homens entregavam-se ao roubo, jogatina e comércio, suas companheiras voltavam-se para o saque, apoderando-se de mantos e ponchos de paraguaios mortos, ou sobreviviam graças à prostituição, Havia ainda casos limite como o de certa Maria Curupaiti, que, aos 13 anos, disfarçada de homem, foi aceita como voluntário da pátria, falecendo em combate”
Fascismo — O fascismo é entendido por cientistas políticos e historiadores como a forma radical da expressão do espectro político da direita conservadora. No entanto, é importante dizer que nem toda política praticada pela direita conservadora é extremista como o fascismo. Essa ideia também vale para o espectro político da esquerda, uma vez que nem toda política praticada por ela é radicalizada como o que foi visto pelo stalinismo, o regime totalitário liderado por Josef Stalin, entre 1927 e 1953, na União Soviética.
Totalitarismo — O totalitarismo é um sistema político caracterizado pelo domínio absoluto de uma pessoa ou partido político sobre uma nação. Dentro do totalitarismo, a pessoa ou partido político no po- der controla todos os aspectos da vida pública e da vida privada por meio de um governo abertamente autoritário.
Nazismo — Nacional-Socialismo (em alemão: National sozialismus), mais comumente conheci- do como nazismo, é a ideologia associada ao Partido Nazista, ao Estado nazista, bem como a outros grupos de extrema-direita. Normalmente caracterizado como uma forma de fascismo que incorpora o racismo científico e o antissemitismo, o nazismo se desenvolveu a partir das influências de ideias pangermânicas, do movimento nacionalista alemão Völkisch e de grupos paramilitares anticomunistas chamados Freikorps, que surgiram durante a República de Weimar após a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial. O termo “nacional-socialismo” surgiu a partir da tentativa de redefinição nacionalista do conceito de “socialismo”, para criar uma alternativa tanto ao socialismo internacionalista marxista, quanto ao capitalismo de livre mercado. A ideologia rejeitava o conceito de luta de classes, assim como defendia a propriedade privada e as empresas de alemães.
Apesar das semelhanças, o nazismo e o fascismo são diferentes. O nazismo foi um movimento ideológico que nasceu na Alemanha e esteve sob o comando de Adolf Hitler de 1933 a 1945.
Já o fascismo foi um sistema político e surgiu primeiro, na Itália, tendo aumentado a sua influência na Europa entre 1919 e 1939.
O nazismo tem caráter nacionalista, imperialista e belicista (que tende a se envolver ativamente em guerras). O fascismo também tem caráter nacionalista e é antissocialista.
Fascismo
O fascismo é um termo que deriva do movimento fascista que surgiu na Itália, no final da década de 1910, e que ficou caracterizado pelo amplo controle do Estado e pelo autoritarismo.
O fascismo foi um movimento político que surgiu na Itália e assumiu o poder desse país em 1922. O fortalecimento do fascismo italiano, conhecido como fascismo clássico, ocorreu em um cenário de crise econômica, desalento com os resultados da Primeira Guerra Mundial e medo do crescimento do socialismo na Itália.
Ultimamente é bastante comum as pessoas utilizarem a expressão “fascista” em manifestações públicas e postagens pessoais na internet. Acontece que, muitas vezes, o termo é usado de maneira inapropriada e muito genérica. Em razão desse uso incorreto feito pelas pessoas, o termo é comumente associado a toda personalidade que possui uma postura autoritária e violenta.
Ao se falar em fascismo, porém, faz-se menção a um movimento político que surgiu na Itália durante a década de 1910 e que governou o país entre 1922 e 1943. O fascismo na Itália tornou-se um regime totalitário que possuía uma política autoritária, nacionalista e antiliberal e foi liderado por Benito Mussolini, chamado pelos seguidores do fascismo de Duce (líder).
A crítica ao uso do termo “fascista” de maneira indiscriminada, no entanto, não é atual. Em 1944, o escritor britânico George Orwell já fazia críticas de que em seu país (Inglaterra) as pessoas faziam uso do termo sem atentar para o que é fascismo1. A ideia deste texto é trazer um esclarecimento sobre o que é o fascismo, seja o fascismo clássico, isto é, o italiano, seja o que é chamado por cientistas políticos atuais de “neofascismo”, isto é, práticas políticas atuais que se assemelham ideologicamente ao fascismo clássico.
O que realmente é o fascismo?
Definir fascismo não é uma tarefa fácil porque é um sistema político que varia profundamente de um país para outro. A respeito dos obstáculos de se conceituar o fascismo, George Orwell afirma que “mesmo os grandes Estados fascistas diferem em boa medida um do outro em estrutura e em ideologia”2.
A respeito das dificuldades de fazer uma definição do fascismo, é importante também atentar à afirmação do cientista político Chip Berlet3:
“O fascismo é uma corrente política complexa que parasita outras ideologias, possui muitas tensões internas e contradições e possui um aspecto camaleônico que se apropria de símbolos históricos, ícones, slogans, tradições, mitos e heróis da sociedade que deseja mobilizar”.
Mesmo colocada a dificuldade de se analisar esse conceito, os historiadores e cientistas políticos conseguem fazer uma definição ampla com características que se manifestaram em diferentes regimes fascistas que existiram. Um ponto de partida é identificar a posição do fascismo dentro do espectro político.
O consenso acadêmico entre historiadores e cientistas políticos afirma que o fascismo é uma ideologia política radical do espectro político da direita conservadora. Isso não significa falar que toda prática da direita conservadora é radicalizada e, portanto, fascista. O mesmo vale para a esquerda, uma vez que nem toda política desse espectro político é radicalizada, como aconteceu no Camboja, por exemplo.
A fácil adaptação do fascismo a diferentes contextos políticos e sociais e sua capacidade de se apropriar de elementos de outras ideologias tornam esse conceito complexo, mas não impossível de ser explicado. O fascismo enquanto movimento político e social possui uma retórica populista que ataca assuntos como a corrupção da nação, a falência dos valores morais, faz o levantamento de bodes expiatórios etc.
Nesse contexto citado acima, a retórica populista dos fascistas sempre se aproveita de momentos de crise econômica, social e política. O discurso retórico fascista apresenta soluções fáceis para problemas complexos. Quando alcança o poder, o fascismo assume uma postura autoritária, violenta, hierárquica e com foco nas elites. O populismo fascista defende mudanças radicais no status quo (expressão em latim para referir-se ao “estado atual das coisas”) quando se referem ao sistema político, mas nos privilégios de classe o discurso privilegia a manutenção desse status quo.
Dentro do contexto do período “entreguerras” (entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial), o termo “fascismo” pode ser usado para se referir aos seguintes casos:
1. Ao fascismo clássico, isto é, o movimento fascista surgido na Itália e liderado por Mussolini.
2. A versão alemã do fascismo, com viés mais extremado na questão racial, por exemplo. Estamos fazendo referência ao nazismo, liderado por Hitler.
3. A outros regimes que surgiram nesse período e que se inspiravam ideologicamente no fascismo italiano e/ou alemão. Nesse caso, podemos mencionar o salazarismo, em Portugal, franquismo, na Espanha, e outros regimes fascistas que surgiram na Croácia, Lituânia, Hungria etc.
Mussolini e Hitler eram líderes de movimentos totalitários, o fascismo e o nazismo, respectivamente.
Neofascismo
Recentemente, entre os especialistas que fazem o debate do conceito, surgiu também a expressão “neofascismo”. Esse termo é usado para fazer menção a regimes e movimentos políticos atuais que possuem características que os aproximam do fascismo clássico. Novamente, é impossível fazer uma relação direta entre movimentos políticos atuais e o fascismo, justamente pelo caráter camaleônico desse movimento, que se adapta a diferentes circunstâncias e contextos.
Algumas características podem ser mencionadas em relação ao neofascismo, tais como:
1. Patriotismo exagerado que assume posturas xenófobas e violentas;
2. Desprezo pelos valores da democracia liberal, como as liberdades individuais;
3. Construção de retórica violenta contra supostos “inimigos internos” que contribuem para a “degradação moral” da nação.
Características do fascismo
Para ampliar a compreensão sobre o fascismo e como o conceito é entendido pelos historiadores, é válido organizar algumas das características que explicam em partes o fascismo clássico, ou seja, o fascismo italiano:
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1. A defesa de um sistema político baseado no unipartidarismo, no qual o próprio partido fascista é a única força política atuante;
2. Culto ao líder do partido e defesa da ideia de que ele é o único capaz de solucionar os problemas da nação;
3. Controle total do Estado sobre assuntos relativos à economia, política e cultura;
4. Mobilização das massas a partir de retórica populista;
5. Exaltação de valores tradicionais e crítica a tudo taxado como “moderno”;
6. Desprezo pelos valores liberais, como a democracia representativa;
7. Desprezo por valores coletivistas, como o socialismo e o comunismo;
8. Ataque à política tradicional, afirmando que ela não é capaz de solucionar os problemas da nação.
O que foi o fascismo italiano?
O termo fascismo tem origem na expressão do movimento criado por Benito Mussolini chamado de Fasci Italiani di Combattimento. O termo “fasci” é uma menção a um símbolo do Império Romano – um feixe de hastes de madeira com um machado no centro. Isso, inclusive, fazia parte da ideologia mitificada do fascismo: um destino imperial e glorioso para a cidade de Roma.
Mussolini começou sua carreira política na militância de um núcleo socialista italiano, mas acabou sendo expulso do movimento socialista quando publicou um artigo em 1914 defendendo a participação da Itália na Primeira Guerra Mundial. Os socialistas italianos da época eram rigorosamente contrários à participação do país na guerra.
Após se desvincular do socialismo italiano, Mussolini começou a desenvolver um forte discurso nacionalista. Esse discurso nacionalista de Mussolini começou a ganhar adeptos, particularmente, entre as classes conservadoras italianas. Um grupo que passou a dar grande apoio para o fascismo foi o dos proprietários de terras nas regiões centrais da Itália. O fortalecimento do fascismo relacionou-se diretamente com o fortalecimento dos socialistas na Itália entre 1919 e 1920.
Foi nesse momento que a organização Fasci Italiani di Combattimento tornou-se um partido político de fato e assim surgiu o Partido Nacional Fascista. A ideia dos fascistas era tomar o poder da Itália a partir da via eleitoral, mas também por meio de atos violentos contra os opositores, especialmente contra os socialistas.
O uso da violência pelos fascistas contra os socialistas recebeu forte apoio de diversas camadas da sociedade italiana. O objetivo, conforme mencionado, era intimidar e enfraquecer o socialismo enquanto movimento social e político. A violência do fascismo italiano estava muito ligada com um forte militarismo e uniformização de seus partidários a partir de milícias conhecidas como camisas negras.
Apesar de destacado em outro momento do texto, vale citar novamente algumas das características da ideologia fascista liderada por Mussolini conforme destacou o escritor Umberto Eco: a existência de um líder carismático e amparado por uma forte retórica, a construção de um sistema político baseado no corporativismo, a defesa utópica de um destino glorioso e imperial para Roma, uma defesa do imperialismo para expansão territorial da Itália, rejeição da democracia, antissemitismo etc.4
A ascensão de Mussolini na sociedade italiana foi tamanha que determinados grupos passaram a defender que o Duce fosse transformado em primeiro-ministro italiano. Nesse contexto, aconteceu a Marcha sobre Roma, em 28 de outubro de 1922. Nesse dia, milhares de fascistas de diferentes partes da Itália marcharam na direção de Roma. O objetivo era pressionar o rei Vitor Emanuel III a empossar Mussolini como primeiro-ministro. Muitos fascistas que se deslocaram para Roma encontraram facilidades como passagens para transporte em valores mais acessíveis que o normal.
Mussolini foi empossado primeiro-ministro e foi autorizado pelo rei a convocar uma nova base de governo. A posse de Mussolini foi bem aceita entre conservadores e monarquistas, os grupos que mais apoiavam o fascismo.
A partir desse momento, Mussolini realizou ações que o levaram a controlar totalmente o Estado italiano. O modelo que se desenvolveu na Itália serviu de inspiração para movimentos em toda a Europa. Grupos fascistas surgiram em diversas nações, como Croácia (fazia parte da Iugoslávia), Hungria, Lituânia, Romênia, Espanha etc. O fascismo só caiu na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, quando a resistência interna aliada à luta dos Aliados (países que se opuseram à Alemanha, Itália e Japão) causou a queda desse regime.
O fascismo foi um movimento político que surgiu na Itália e assumiu o poder desse país em 1922. O fortalecimento do fascismo italiano, conhecido como fascismo clássico, ocorreu em um cenário de crise econômica, política e social. O líder do regime, chamado de Duce, foi Benito Mussolini, que começou sua vida política como socialista, mas foi desenvolvendo ao longo de sua carreira um discurso nacionalista e extremista. Mussolini seduziu os grupos conservadores da sociedade italiana e garantiu o crescimento do seu partido a partir da perseguição violenta aos opositores.
O termo fascismo tem desdobramentos e pode ser usado em referência a outros movimentos políticos de ideologia semelhante que existiram na Europa entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Além disso, atualmente, o termo “neofascismo” é utilizado por cientistas políticos para se referir a movimentos políticos atuais que se aproximam do fascismo clássico.
___________________
Benito Mussolini foi o líder do Partido Nacional Fascista e assumiu o governo italiano em 1922.*
Publicado por: Daniel Neves Silva
Principais Características do Totalitarismo
O Totalitarismo é um regime político no qual o governo é autoritário, nacionalista, antidemocrático e militarista.
O Estado possui poderes enormes que abarcam todos os setores das vidas dos cidadãos, incluindo a educação, o lazer e o exercício de cidadania.
O termo "totalitarismo" surgiu nos anos 20 para descrever o governo fascista de Benito Mussolini, na Itália.
Resumo
O totalitarismo, como regime político, nasce no século XX, junto à crise do capitalismo internacional e das democracias liberais surgidas no período entre guerras.
Igualmente, se reforça com a profunda crise econômica mundial de 1929. Afinal, o aumento da inflação, desemprego e miséria, levou a ascensão de ideias totalitárias que conquistaram os cidadãos de alguns países.
A ideia comum aos líderes totalitários fascistas era encontrar formas de restabelecer a ordem social e capitalista impedindo assim, o avanço do socialismo. Por sua vez, os regimes totalitários de esquerda usavam dos mesmos métodos para conter o capitalismo.
Então, o totalitarismo é uma prática política onde o Estado é forte, centralizador, e se identifica com as ideias de um único partido político.
Países totalitários
Os exemplos mais significativos foram: o stalinismo, na União Soviética; o nazismo, na Alemanha; o fascismo, na Itália; e o maoismo, na China. Vemos que o totalitarismo independe, portanto, se o governo é de esquerda ou de direita.
Alguns regimes não foram considerados totalitaristas e sim autoritários como foi o caso do salazarismo, em Portugal; e do franquismo, na Espanha.
Atualmente, o único país classificado como totalitário é a Coreia do Norte.
Veja também: Regimes Totalitários na Europa
Principais características do totalitarismo
Os regimes totalitários fascistas ou socialistas guardaram certas semelhanças. Vejamos algumas delas:
Culto ao líder
Os regimes totalitários dão uma ênfase muito grande à figura do líder, a ponto de tornar sua imagem onipresente.
O dirigente sempre é retratado como a pessoa que possui liderança nata e reúne todas as qualidades para conduzir o povo a melhores condições de vida. A biografia é contada em tom grandioso e convenientemente editada. Isso significa que seus opositores são omitidos ou caluniados.
A vida do dirigente totalitário é difundida por todos os meios de comunicação e mostrada como um exemplo a ser seguido. Geralmente, a família do líder não aparece na propaganda oficial, para acentuar o caráter de sacrifício que comete o prócer ao renunciar tudo por sua pátria.
Partido único
Uma das principais características do totalitarismo é o estabelecimento de um único partido no país. Isso significa que todos os outros partidos políticos serão considerados ilegais.
Assim, por meio de uma ideologia oficial e hierarquia rígida, a política deixa de ser algo que pode ser discutido por toda sociedade, para ser apenas feita por um grupo reduzido.
Os cidadãos são chamados a participar da vida política através de manifestações de massas, como festas patrióticas, concentrações em estádios e desfiles. Para conseguir esta adesão, as pessoas são captadas e submetidas pela propaganda governamental.
Educação
O regime totalitarista tem um cuidado especial com a educação. Além de ditar o conteúdo que deve ser ensinado nas escolas, regimenta a infância e a juventude em clubes e organizações.
Ali, muitas vezes as crianças recebiam treinamento militar, instrução sobre a ideologia do Estado e faziam juramentos de fidelidade ao líder.
Hitler é saudado por membros da Juventude Hitlerista na década de 30
Controle ideológico
Para controlar a população são criados órgãos de repressão como a polícia política.
Todo indivíduo que leia, discuta ou propague uma ideia diferente daquela ensinada pelo Estado seria passivo de condenação.
Vemos, então, que o totalitarismo gera violência, posto que as pessoas que não se alinham à ideologia do Estado são punidas de maneira severa. Alguns exemplos são as prisões políticas, campos de reeducação, perda de direitos políticos e de emprego.
Militarismo
A fim de manter acesa a chama da "revolução" ou da criação de um "homem novo", o totalitarismo promove o militarismo.
Assim, estimular o militarismo é uma forma de manter a cidadania em alerta. Incluem-se desde as práticas educacionais com lições de tiro e treinamento físico, até a escolha de um inimigo que deverá ser odiado por todos.
O militarismo gera a vontade e a desculpa para conquistar territórios ou manter aqueles que já se possuía. Por isso, diante desses aspectos, não causa espanto que todos os regimes totalitários europeus procuraram expandir suas fronteiras.
Propaganda e censura
A propaganda política do Estado prolifera com o intuito de exaltar a personalidade do líder, captar os cidadãos para a nova ideologia e controlá-los.
Os meios de comunicação são censurados e somente aquilo que era autorizado pelo Estado podia ser transmitido. Desta maneira, a população deixa de ter contato com novas ideias.
Além disso, o totalitarismo exalta o povo a quem se dirige como o melhor do mundo e sempre escolhe um "inimigo" para contrapor. Isto será largamente explorado pela propaganda oficial.
Umtrabalhador soviético forte rejeita as propostas do capitalista americano, inimigo do socialismo, retratado como um velho ambicioso
Intervencionismo estatal
No campo econômico, o intervencionismo estatal (anti-liberal) é outra importante característica do totalitarismo, visto que o controle e o planejamento geral da economia fica a cargo do Estado.
Países como Portugal, Itália e Espanha organizaram suas economias de forma corporativa; enquanto na Alemanha, as grandes empresas tiveram mais liberdade para realizar seus negócios.
Já na URSS, a economia estava toda a cargo do Estado, pois toda propriedade lhe pertencia.
HOLOCAUSTO — Holocausto foi uma ação sistemática de extermínio dos judeus, em todas as re- giões da Europa dominadas pelos alemães, nos campos de concentração, empreendida pelo regime nazista de Adolf Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
KAMIKASES — Os kamikazes eram uma unidade de ataque especial na Segunda Guerra Mundial. Eram conhecidos por realizarem ataques suicidas por aviadores militares do Império japonês contra navios dos Aliados, para destruir o maior número possível de navios de guerra.
REICH — Reich alemão foi o nome dado à Alemanha durante a maior parte da sua história. Reich foi utilizado por ela própria na variante comum alemão do Sacro Império Romano, o “Santo Império Romano da Nação Alemã” (Heiliges römisches Reich deutscher Nation). Der Riche foi um título para o Imperador. No entanto, convém notar que o latim, e não o alemão, era a linguagem jurídica formal do Império na Idade Média, porém, alguns historiadores preferem utilizar Reich alemão à palavra Latina imperium para definir este período da história alemã.
Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial, iniciada em setembro de 1939, foi a maior catástrofe provocada pelo homem em toda a sua longa história.
Envolveu setenta e duas nações e foi travada em todos os continentes, de forma direta ou indiretamente. O número de mortos superou os cinquenta milhões, havendo ainda uns vinte e oito milhões de mutilados.
É difícil de calcular quantos outros milhões saíram do conflito vivos, mas completamente inutilizados devido aos traumatismos psíquicos a que foram submetidos (bombardeios aéreos, torturas, fome e medo permanente). Outra de suas características, talvez a mais brutal, foi a supressão da diferença entre aqueles que combatem no fronte e a população civil na retaguarda. Essa guerra foi total. Nenhum dos envolvidos selecionou seus objetivos militares excluindo os civis.
Soldados da Segunda Guerra
Atacar a retaguarda do inimigo, suas cidades, suas indústrias, suas mulheres, crianças e velhos passou a fazer parte daquilo que os estrategistas eufemisticamente classificavam como "guerra psicológica" ou "guerra de desgaste". Naturalmente que a evolução da aviação e das armas autopropulsadas permitiu-lhes que a antiga separação entre linha de frente e retaguarda fosse suprimida.
Se a Primeira Guerra Mundial provocou um custo de 208 bilhões de dólares, esta atingiu a impressionante cifra de 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, quantia que, se investida no combate da miséria humana a teria suprimido da face da terra. Aproximadamente 110 milhões de homens e mulheres foram mobilizados, dos quais apenas 30% não sofreram morte ou ferimento.
Como em nenhuma outra, o engenho humano foi mobilizado integralmente para criar instrumentos cada vez mais mortíferos, sendo empregados a bomba de fósforo, a napalm e finalmente a bomba política de genocídio em massa, construindo-se campos especiais para tal fim. Com disse o historiador R.A.C. Parker: "O conceito que a humanidade tinha de si mesmo, nunca voltará a ser o mesmo".
Enfim a Liga das Nações, órgão instituído para manter a paz entre as nações, não conseguiu cumprir o seu papel, e esfacelou mediante a corrida militarista preparada pelas nações inconformadas pela hegemonia política e militar exercida pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial. Sem possuir uma única razão, essa guerra foi consequência do exacerbado desenvolvimento industrial das nações europeias. De certa forma, levando em consideração suas especificidades, a Segunda Guerra parecia uma continuidade dos problemas da Primeira Guerra.
Desta forma, a Segunda Guerra é considerada como uma verdadeira guerra mundial, sendo uma consequência de um conjunto de continuidades e questões mal resolvidas pelos tratados de paz estabelecidos após a Primeira Guerra Mundial. Os confrontos foram divididos entre duas grandes coalizões militares: os Aliados, liderados por Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética; e o Eixo, composto pela Itália, Alemanha e Japão. Em consequência de suas maiores dimensões, os conflitos foram desenvolvidos na Europa, Norte da África e países do Oceano Pacífico.