1ª SEMANA
TEMA: A queda do muro de Berlim
Queda do Muro de Berlim
A queda do Muro de Berlim foi um acontecimento marcante que ocorreu em novembro de 1989, deu início à reunificação da Alemanha e evidenciou o fracasso do bloco comunista.
A queda do Muro de Berlim deu-se na passagem do dia 9 para o dia 10 de novembro de 1989. Esse acontecimento é marcante, pois foi o prenúncio da queda da República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental, e da reunificação da Alemanha, separada em duas nações desde o final da Segunda Guerra Mundial. A queda do muro também foi parte do processo de queda do bloco comunista na Europa Oriental, que se iniciou a partir do final da década de 1980.
Antecedentes históricos
O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria, conflito político-ideológico que dividiu o mundo em dois blocos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o comunista, liderado pela União Soviética. A Alemanha foi um dos grandes palcos da Guerra Fria, uma vez que o país foi dividido em duas nações.
Ao final da Segunda Guerra, a Alemanha, derrotada, foi dividida em quatro zonas de influência: uma britânica, uma francesa, uma norte-americana e uma soviética. Essa divisão em zonas de influência também aconteceu em Berlim, capital da Alemanha. Com o avanço das tensões resultantes da Guerra Fria, a Alemanha acabou dividindo-se em duas nações.
A Alemanha Ocidental (República Federal Alemã) e a Alemanha Oriental (República Democrática Alemã) foram as duas nações surgidas dessa disputa político-ideológica da Guerra Fria. Berlim, por ser uma grande cidade e por ter grande importância estratégica, foi disputada pelos dois blocos, o que resultou também na sua divisão. Começava, na década de 1940, uma disputa que se estendeu por cinco décadas.
Mapa de Berlim durante o período da Guerra Fria. De azul, está Berlim Ocidental; de vermelho, está Berlim Oriental.
Com a configuração desse quadro e a formação do bloco comunista no Leste Europeu, os Estados Unidos logo criaram uma estratégia para barrar o avanço desse bloco pela Europa e, assim, surgiu o Plano Marshall. Esse plano tinha como objetivo financiar a reconstrução dos países da Europa Ocidental que sofreram com a destruição causada pela guerra.
O resultado disso é que logo a cidade de Berlim Ocidental (lado capitalista) desenvolveu-se. A população da porção oriental de Berlim, insatisfeita política e economicamente, começou a se mudar em grande número para o lado ocidental. Só em 1953, 331 mil pessoas da Alemanha Oriental abandonaram o país e entre 1948 e 1961, cerca de 2,7 milhões de pessoas haviam deixado o país.
Para conter o êxodo de habitantes, os governos da Alemanha Oriental, governada na época por Walter Ulbricht, e da União Soviética, governada na época por Nikita Kruschev, decidiram construir um muro que isolasse Berlim Ocidental. O Muro de Berlim foi construído na passagem do dia 12 para o dia 13 de agosto de 1961. Durante 28 anos, o muro foi o símbolo da divisão do mundo por causa da Guerra Fria.
Queda do muro de Berlim
O bloco comunista entrou em uma forte crise durante a década de 1980 e a situação não foi diferente na Alemanha Oriental. A crise da economia da Alemanha Oriental era evidenciada pelo aumento da dívida externa do país, crescimento do deficit comercial, a falta de mercadorias etc. Além disso, a indústria e a infraestrutura do país estavam à beira do colapso.
A insatisfação da população da Alemanha Oriental com a falência econômica de seu país era agravada pelo autoritarismo do governo. O governo da Alemanha Oriental não aceitava críticas, perseguia opositores, além de censurar a cultura e a opinião das pessoas que era intensa. A polícia secreta, chamada Stasi, era o símbolo da repressão do governo.
A crescente insatisfação da população fez com que movimentos de oposição começassem a ser organizados apesar da repressão do governo. A crise política na Alemanha Oriental começou a ser agravada especialmente a partir de 1989 por conta de acontecimentos que se passaram na Hungria e na Polônia, outros dois países do bloco comunista.
Em junho de 1989, a Hungria decretou a abertura de sua fronteira com o oeste, isto é, com as nações capitalistas e isso impactou diretamente a Alemanha, porque, somente no mês seguinte, 25 mil pessoas da Alemanha Oriental decidiram ir para a Hungria e de lá encaminharam-se para a Áustria, de onde solicitavam asilo político na embaixada da Alemanha Ocidental.
Enquanto isso, na Polônia, era eleito o primeiro governo não comunista desde a Segunda Guerra Mundial, e isso também fez com que milhares de pessoas mudassem da Alemanha Oriental para a Polônia. Esse fluxo de acontecimentos desembocou em uma série de protestos na Alemanha Oriental, especialmente em Berlim Oriental e Leipzig, as maiores cidades da porção oriental.
O mês de outubro e os primeiros dias de novembro de 1989 ficaram marcados por uma série de acontecimentos que evidenciaram a ruína do governo da Alemanha Oriental. A situação fugia do controle e isso resultava na demissão de milhares de membros do governo. Os protestos também ganhavam uma magnitude que não se via na Alemanha Oriental desde a década de 1950.
No dia 9 de novembro de 1989, o porta-voz da Alemanha Oriental chamado Günter Schabowski realizou o anúncio da nova lei de mobilidade de cidadãos. A lei anunciada pelo porta-voz basicamente acabava com as restrições que existiam na fronteira da Alemanha Oriental. Durante a entrevista, Schabowski afirmou equivocadamente para um jornalista que a lei entraria em vigor em caráter imediato. A lei, na verdade, só seria válida depois de ser aprovada no Parlamento.
O anúncio do porta-voz na imprensa atraiu milhares de pessoas nos postos fronteiriços da Alemanha Oriental. Essas pessoas exigiam o direito de atravessar as fronteiras para entrarem na Alemanha Ocidental e logo cerca de 100 mil pessoas reuniram-se ao redor do Muro de Berlim, forçando as autoridades da Alemanha Oriental a endossar a lei. Na virada da noite de 9 para 10 novembro a multidão, portando pás, picaretas e outras ferramentas, começou a realizar a derrubada do Muro que separava as duas porções de Berlim.
Helmut Kohl, chanceler da Alemanha de 1982 a 1998, foi quem conduziu o processo de reunificação da Alemanha.
A queda do Muro tinha uma simbologia muito grande e deu força para o processo de reunificação das Alemanhas. O processo político da reunificação da Alemanha foi conduzido por Helmut Kohl, chanceler da Alemanha Ocidental e membro da União Democrata-Cristã, partido de centro-direita da Alemanha.
A reunificação da Alemanha foi formalizada em 3 de outubro de 1990 e o processo de abertura total das fronteiras concluído em 1º de julho de 1991. A derrubada do muro, assim como a reunificação da Alemanha foram acompanhadas de celebrações na rua e festas por toda a Alemanha.
Consequências
A queda do Muro de Berlim foi um dos grandes acontecimentos recentes da história da humanidade. As suas grandes consequências foram:
- Contribuiu para a queda do bloco comunista do leste europeu. A ruína do bloco já estava em andamento e a queda do muro foi mais um elemento nesse processo.
- Contribuiu decisivamente para a reunificação da Alemanha.
A queda do Muro também representou um grande desafio para os governantes da Alemanha Ocidental que encararam o desafio de realizar a modernização da porção leste da Alemanha. A divisão da Alemanha após tantos anos criou uma espécie de “barreira mental” e mesmo, hoje, passados três décadas desse acontecimento, ainda existem cidadãos alemães que defendem a reconstrução do Muro.
Resumo
O Muro de Berlim foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria e cercava Berlim Ocidental, isolando-a.
O Muro foi construído em 1961 para conter o êxodo de pessoas que se mudavam para Berlim Ocidental. Foi construído em um dia.
Separou as duas porções da cidade de Berlim, durante 29 anos.
Na década de 1980, a Alemanha Oriental estava em grave crise econômica que gerava forte insatisfação na população.
A falta de liberdade e o autoritarismo do governo da Alemanha Oriental também era um motivo de insatisfação.
Inúmeros protestos aconteciam em Berlim Oriental e Leipzig, grandes cidades da Alemanha Oriental.
A abertura das fronteiras da Hungria fez milhares de alemães irem para lá para atravessar a fronteira com a Alemanha Ocidental.
A queda do Muro aconteceu após o porta-voz do governo da Alemanha Oriental anunciar a abertura das fronteiras do país.
Milhares de pessoas reuniram-se ao redor do Muro no dia 9 de novembro de 1989 e, então, começaram a colocar o muro abaixo.
Um ano depois da queda do Muro, a Alemanha reunificava-se e tornava-se uma só nação novamente, depois de quase 50 anos de separação.
Por Daniel Neves
Graduado em História
Cartão-postal da Alemanha celebrando a queda do Muro de Berlim, que aconteceu em novembro de 1989.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M0xOBc2lH9A Acesso em 02/11/2020
2ª SEMANA
TEMA: Conflitos Regionais no Mundo Atual
Nova Ordem Mundial
A Nova Ordem Mundial – ou Nova Ordem Geopolítica Mundial – significa o plano geopolítico internacional das correlações de poder e força entre os Estados Nacionais após o final da Guerra Fria.
Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o esfacelamento da União Soviética, em 1991, o mundo se viu diante de uma nova configuração política. A soberania dos Estados Unidos e do capitalismo se estendeu por praticamente todo o mundo e a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) se consolidou como o maior e mais poderoso tratado militar internacional. O planeta, que antes se encontrava na denominada “Ordem Bipolar” da Guerra Fria, passou a buscar um novo termo para designar o novo plano político.
A primeira expressão que pode ser designada para definir a Nova Ordem Mundial é a unipolaridade, uma vez que, sob o ponto de vista militar, os EUA se tornaram soberanos diante da impossibilidade de qualquer outro país rivalizar com os norte-americanos nesse quesito.
A segunda expressão utilizada é a multipolaridade, pois, após o término da Guerra Fria, o poderio militar não era mais o critério principal a ser estabelecido para determinar a potencialidade global de um Estado Nacional, mas sim o poderio econômico. Nesse plano, novas frentes emergiram para rivalizar com os EUA, a saber: o Japão e a União Europeia, em um primeiro momento, e a China em um segundo momento, sobretudo a partir do final da década de 2000.
Por fim, temos uma terceira proposta, mais consensual: a unimultipolaridade. Tal expressão é utilizada para designar o duplo caráter da ordem de poder global: “uni” para designar a supremacia militar e política dos EUA e “multi” para designar os múltiplos centros de poder econômico.
Mudanças na hierarquia internacional
Outra mudança acarretada pela emergência da Nova Ordem Mundial foi a necessidade da reclassificação da hierarquia entre os Estados nacionais. Antigamente, costumava-se classificar os países em 1º mundo (países capitalistas desenvolvidos), 2º mundo (países socialistas desenvolvidos) e 3º mundo (países subdesenvolvidos e emergentes). Com o fim do segundo mundo, uma nova divisão foi elaborada.
A partir de então, divide-se o mundo em países do Norte (desenvolvidos) e países do Sul (subdesenvolvidos), estabelecendo uma linha imaginária que não obedece inteiramente à divisão norte-sul cartográfica, conforme podemos observar na figura abaixo.
Mapa com a divisão norte-sul e a área de influência dos principais centros de poder
É possível perceber, no mapa acima, que a divisão entre norte e sul não corresponde à divisão estabelecida usualmente pela Linha do Equador, uma vez que os critérios utilizados para essa divisão são econômicos, e não cartográficos. Percebe-se que alguns países do hemisfério norte (como os Estados do Oriente Médio, a Índia, o México e a China) encontram-se nos países do Sul, enquanto os países do hemisfério sul (como Austrália e Nova Zelândia), por se tratarem de economias mais desenvolvidas, encontram-se nos países do Norte.
No mapa acima também podemos visualizar as áreas de influência política dos principais atores econômicos mundiais. Vale lembrar, porém, que a área de influência dos EUA pode se estender para além da divisão estabelecida, uma vez que sua política externa, muitas vezes, atua nas mais diversas áreas do mundo, com destaque para algumas regiões do Oriente Médio.
A “Guerra ao terror”
Como vimos, após o final da Guerra Fria, os Estados Unidos se viram isolados na supremacia bélica do mundo. Apesar de a Rússia ter herdado a maior parte do arsenal nuclear da União Soviética, o país mergulhou em uma profunda crise ao longo dos anos 1990 e início dos anos 2000, o que não permitiu que o país mantivesse a conservação de seu arsenal, pois isso custa muito dinheiro.
Em face disso, os Estados Unidos precisavam de um novo inimigo para justificar os seus estrondosos investimentos em armamentos e tecnologia bélica. Em 2001, entretanto, um novo inimigo surgiu com os atentados de 11 de Setembro, atribuídos à organização terrorista Al-Qaeda.
A tragédia de 11 de Setembro vitimou centenas de pessoas, mas motivou os EUA a gastarem ainda mais com armas. ¹
Com isso, sob o comando do então presidente George W. Bush, os Estados Unidos iniciaram uma frenética Guerra ao Terror, em que foram gastos centenas de bilhões de dólares. Primeiramente os gastos se direcionaram à invasão do Afeganistão, em 2001, sob a alegação de que o regime Talibã que governava o país daria suporte para a Al-Qaeda. Em segundo, com a perseguição dos líderes dessa organização terrorista, com destaque para Osama Bin Laden, que foi encontrado e morto em maio de 2011, no Paquistão.
O que se pode observar é que não existe, ao menos por enquanto, nenhuma nação que se atreva a estabelecer uma guerra contra o poderio norte-americano. O “inimigo” agora é muito mais difícil de combater, uma vez que armas de destruição em massa não podem ser utilizadas, pois são grupos que atacam e se escondem em meio à população civil de inúmeros países.
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia
As bandeiras, respectivamente, da União Europeia, dos Estados Unidos, da China e do Japão, principais atores da Nova Ordem Mundial
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1-1z2vT-_HU Acesso em 02/11/2020
3ª SEMANA
Guerra do Iraque
Após os atentados de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos entraram em alerta contra seus possíveis inimigos. Empreenderam uma guerra contra os afegãos derrubando o governo talebã, mas não conseguiram capturar o terrorista Osama Bin Laden. Paralelamente, o presidente George W. Bush criou a Lei Antiterrorismo, pela qual o Estado teria o direito de prender estrangeiros sem acusação prévia e violar determinadas liberdades individuais.
Nesse mesmo período, o governo norte-americano conseguiu a liberação de fundos do orçamento para o investimento em armas, no valor de 370 bilhões de dólares. Com o passar do tempo, o fracasso na captura de Bin Laden direcionou atenção do governo norte-americano contra outros possíveis inimigos dos EUA. O chamado “eixo do mal” teria como alvos principais alguns países como Irã, Coréia do Norte e Iraque. Este último, comandado por Saddam Hussein, foi o primeiro a ser investigado pelos EUA.
No ano de 2002, o presidente George W. Bush iniciou uma forte campanha contra as ações militares do governo iraquiano. Em diversas ocasiões, denunciou a presença de armas de destruição em massa que poderiam colocar em risco os Estados Unidos e seus demais aliados. Após denunciar a produção de armas químicas e biológicas no Iraque, os EUA conseguiram que uma delegação de inspetores das Nações Unidas investigasse o estoque de armamentos controlados por Saddam Hussein.
Em fevereiro de 2003, os delgados da ONU chegaram à conclusão que não havia nenhum tipo de arma de destruição em massa no Iraque. Contudo, contrariando a declaração do Conselho de Segurança da ONU, o presidente George W. Bush formou uma coalizão militar contra os iraquianos. No dia 20 de março de 2003, contando com o apoio de tropas britânicas, italianas, espanholas e australianas, os EUA deram início à guerra do Iraque com um intenso bombardeio.
Em pouco tempo, a força de coalizão conseguiu derrubar o governo de Saddam Hussein e instituir um governo de natureza provisória. Em dezembro de 2003, o governo estadunidense declarou sua vitória contra as ameaçadoras forças iraquianas com a captura do ditador Saddam Hussein. A vitória, apesar de “redimir” as frustradas tentativas de se encontrar Bin Laden, estabeleceu um grande incômodo político na medida em que os EUA não encontraram as tais armas químicas e biológicas.
Passados alguns meses, a população iraquiana foi levada às urnas para que escolhessem figuras políticas incumbidas de criar uma nova constituição para o país. Passadas as apurações uma nova carta foi criada para o país e o curdo Jalal Talabani foi escolhido como presidente do país. Em um primeiro momento, tais episódios indicariam o restabelecimento da soberania política do país e o fim do processo de ocupação das tropas norte-americanas.
No entanto, o cenário político iraquiano esteve longe de uma estabilização. Os grupos políticos internos, sobretudo dominados por facções xiitas e sunitas, se enfrentam em vários conflitos civis. Ao longo desses anos de ocupação, os Estados Unidos vem empreendendo uma batalha que não parece ter fim, pois as ações terroristas contra suas tropas continuam ocorrendo. Em 2008, com o fim da era George W. Bush existe uma grande expectativa sobre o fim da presença militar dos EUA no Iraque.
Por Rainer Sousa
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=dtyGK0_wCo0 Acesso em 24/11/2020
4ª SEMANA
Contracultura
O termo contracultura foi cunhado pela imprensa norte-americana dos anos 1960. Referia-se a manifestações culturais marginais, contestadoras, que floresciam nos EUA e em outros países, especialmente na Europa, representando formas não tradicionais de oposição.
Desse movimento múltiplo de contraposição que respondia à acelerada industrialização, crescimento econômico e racionalização científica no pós-guerra, surgiram importantes manifestações artísticas, como o rock, os movimentos hippie e punk, bem como a internacionalização do movimento estudantil, que culminou em manifestações concomitantes em diversos países em maio de 1968. O movimento contracultural da década de 60 representou uma revolução comportamental nas sociedades ocidentais.
Símbolos do movimento hippie
Contexto histórico
Depois da Segunda Guerra Mundial, o mundo ocidental experimentou um período de crescimento econômico, ampliação da qualidade de vida e efervescência cultural e política, o qual o escritor Eric Hobsbawm denominou de “Era de Ouro”. O padrão de vida que antes era restrito aos ricos passou a contemplar também as classes médias. Houve um incremento de pessoas no mercado de consumo de bens e serviços, mais direitos e um número cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho. O tempo de estudo dos jovens aumentou e também o período em que eram sustentados pelos pais, podendo dedicar-se, inclusive, a uma formação superior.
O desenvolvimento da tecnologia permitia uma integração global cada vez maior. A indústria cultural produzia entretenimento, o qual era consumido massivamente. Porém, um salto econômico tão grande não se daria sem efeitos colaterais. No pacote desse ciclo de prosperidade, surgiram também problemas ecológicos, resultantes da maneira como a exploração em escala se desenrolava, e uma agudização das desigualdades por causa da concentração de renda.
A juventude emergiu como grupo consumidor, como classe estudantil e como modelo valorizado na cultura de massas. Karl Mannheim, grande estudioso da juventude enquanto conceito sociológico, afirma que, em uma sociedade inclinada à dinamicidade, a juventude é prestigiada e requisitada nos movimentos de mudança social.
Embora não seja inerentemente revolucionária, pois pode ser impulsionada tanto por movimentos revolucionários quanto por movimentos conservadores, a juventude funciona sociologicamente como agente revitalizante, sendo quem melhor se ajusta às novas situações ou às circunstâncias em acelerada transformação.
Na década de 50, mulheres e jovens destacavam-se como forças sociais. Mulheres ingressavam no mercado de trabalho, passavam a complementar a renda da família ou mesmo alcançavam a independência financeira. Os divórcios aumentaram e foi desenvolvida a pílula anticoncepcional, a qual permitiu que a gravidez pudesse ser planejada e o número de filhos por mulher diminuísse.
Os jovens ganharam as universidades, organizaram-se politicamente em movimentos estudantis e queriam mudar o mundo, além de experimentarem uma liberdade sexual maior que as gerações anteriores. Essa conjunção de mudanças em escala global, somada ao reconhecimento dos jovens e das mulheres como grupos com força social e política, ensejou, na década de 1960, o surgimento de novos movimentos sociais e políticos, como o feminismo, e os movimentos juvenis de contestação. A globalização e o avanço da tecnologia permitiram que suas mensagens se propagassem em todo o mundo.
A juventude dos anos 60 descrita abreviadamente no tópico anterior não havia experienciado os conflitos da geração de seus pais: depressão econômica e os horrores de uma guerra. Logo, viam seus pais extremamente satisfeitos com um emprego fixo, férias remuneradas, aposentadoria e não compreendiam como eles se contentavam. Também consideravam a postura dos adultos apática em relação à Guerra do Vietnã – propagada massivamente pela televisão norte-americana como uma missão civilizatória – e à expansão do capitalismo propagada pelo governo americano como uma expansão do desenvolvimento e combate ao comunismo.
Nesse sentido, a contracultura teve sua gênese em um conflito geracional entre essa juventude e os seus pais, posto que ela via o capitalismo com maus olhos e queria fazer diferente de seus antecessores. A partir de universidades e integradas ao uso das tecnologias, compartilhavam ideias com seus pares em outros lugares do mundo, ansiavam por criar novos valores e ideais, bem como uma nova cultura que impedisse a sociedade de sucumbir novamente a uma aventura totalitária.
A rebeldia e o inconformismo direcionaram-se à burocracia dos governos, ao sistema capitalista, ao consumismo, às guerras, aos regimes ditatoriais. Apresentavam-se contra a cultura hegemônica, mas também a consumiam e a utilizavam para propagar seu ideário, em uma relação contraditória com a cultura de massas.
A indústria cultural, por sua vez, passou a produzir em larga escala e oferecer para um público maior as vestimentas, músicas, livros, filmes e outros símbolos que caracterizavam a contracultura. Esse foi o método por ela utilizado para absorver e neutralizar todos os movimentos de descontentamento que se opunham ao capitalismo: simplificá-los e transformá-los em produto.
Os adeptos da contracultura contrapunham-se à industrialização acelerada. Para eles, a base racional, pragmática e puramente técnica pela qual as sociedades ocidentais se desenvolviam era a motivadora das duas grandes guerras mundiais. Esses jovens inconformados desejavam fundar uma nova sociedade, diferente daquela que estava posta. Imbuídos de conceitos alternativos sobre o mundo, produziam sua própria cultura.
Em vez do individualismo, valorizavam a ideia de uma vida em comunidade, sem hierarquia; em vez de uma dominação vertical estatal, primavam pelo diálogo e persuasão; em vez de uma produtividade exacerbada, produzir o necessário para a manutenção da vida e aproveitar o tempo de outras formas, com lazer e prazer. Em vez do cientificismo, interessavam-se pelas religiões orientais, pela meditação, contemplação.
A contracultura dos anos 60 reuniu em seu bojo muitos movimentos reivindicatórios, minorias políticas. O Movimento pelos Direitos Civis aglutinou diversos grupos culturais, transpondo os limites da esquerda tradicional político-partidária. A rebeldia era exposta a partir do corpo, forma de se vestir, falar, comportar-se e, mesmo que não tenha gerado grandes mudanças na macropolítica, ocasionou mudanças comportamentais em escala global.
Trouxe também grandes contribuições artísticas para o mundo. Na música, destacaram-se o rock e músicos ligados ao movimento, como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Beatles. No cinema, destacaram-se os filmes de Stanley Kubrick; nas artes plásticas, pinturas pop art; na literatura, o movimento beat.
Movimento hippie
O movimento hippie surgiu nos Estados Unidos, durante a década de 1960. Seus adeptos organizavam-se em comunidades rurais e, entre suas demonstrações de rebeldia, estavam passeatas pela paz, uso de drogas, sexo livre, organização de festivais. Os principais lemas, até hoje amplamente conhecidos, eram “paz e amor” e “faça amor, não faça guerra”.
O mais famoso festival, que reuniu cerca de meio milhão de pessoas, foi o Woodstock. Os hippies eram contrários às guerras, em especial a Guerra do Vietnã, eram antiarmamentistas e antinacionalistas. Seu estilo de vida era nômade, com a assimilação de práticas de religiões orientais. Praticavam o nudismo e pregavam a liberdade sexual, o amor livre, a não violência, a preservação ambiental. Esse modelo de comunidade espalhou-se pelo mundo e, mesmo que tenha perdido sua popularidade a partir da década de 70, é um modelo de vida em grupo que é praticado por pequenas comunidades até hoje – em Goiás, por exemplo.
Movimento punk
O movimento punk surgiu em Nova York, em 1974, ligado a um estilo musical dentro do gênero rock. Sua contestação era direcionada ao rock progressivo, que fazia muito sucesso comercial e era considerado pomposo pelos adeptos desse movimento underground. Também era crítico ao movimento hippie. Nos EUA a banda que mais se destacou foi Ramones.
Espalhou-se pelo mundo e, no Reino Unido, caracterizou-se pela contestação política ao governo e pela influência de ideais anarquistas e socialistas. Teve como principais representantes as bandas The Clash e Sex Pistols. Diferentemente do movimento hippie, o movimento punk tinha como lemas a individualidade e a independência. A frase característica era o “faça você mesmo”, que impulsionou o surgimento de gravadoras independentes e até de design e moda artesanais para os músicos e fãs.
Esse gênero também abarcou artistas independentes da literatura e do cinema. Na música, abriu espaço para as mulheres, que chegaram a liderar bandas. A marca registrada do movimento punk é o moicano, inspirado no visual de índios norte-americanos. No Brasil, a cena punk desenvolveu-se principalmente em São Paulo e Brasília.
O cenário musical punk abriu espaço para as mulheres, como o exemplo da banda britânica The Slits.
Contracultura no Brasil
A revolução cultural capitaneada pelos Estados Unidos e que ganhou contornos mundiais ocorreu em um momento histórico em que o Brasil vivia sob uma ditadura militar. Especialmente a partir da promulgação do Ato Institucional nº 5, a perseguição a opositores políticos e a censura à imprensa e à classe artística intensificaram-se.
Durante a década de 60, o Brasil vivia um período de efervescência cultural, com sua musicalidade expressa na bossa nova, por exemplo, sendo apreciada em todo o mundo. Também experimentava efervescência política com um movimento estudantil forte. Havia inclusive festivais nacionais do cancioneiro popular promovidos em ligação com os movimentos estudantis.
A repressão e a censura praticadas durante a ditadura militar desaceleraram esse processo, mas não impediram que manifestações de contracultura se desenvolvessem. Embora a Jovem Guarda tenha trazido o rock para o Brasil, o movimento artístico que mais se aproximou da proposta contestadora da contracultura norte-americana foi a Tropicália.
Banda Novos Baianos, representante do movimento contracultural brasileiro da década de 70.
Grupos como o Novos Baianos e Mutantes misturaram o rock com ritmos brasileiros e uma estética inovadora, rebelde e irreverente para apresentar uma reivindicação de liberdade sobre o que dizer e cantar, além de uma mensagem crítica aos meios de comunicação de massa, ao consumismo e, também, à fração de artistas brasileiros que se concentrava exclusivamente na militância política. Esse movimento legou ao Brasil artistas que se tornariam consagrados, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Moraes Moreira, Baby do Brasil e Gal Costa.
O cinema novo, cujo principal expoente foi Glauber Rocha, também é um exemplo brasileiro de contracultura, bem como a banda experimentalista Secos & Molhados, liderada por Ney Matogrosso na década de 70.
Cultura e contracultura
A cultura abrange tudo aquilo que pode ser aprendido e ensinado, logo está presente em todos os nossos processos de interação, seja com as pessoas, seja com o ambiente que nos rodeia. Se é aprendida, ela não é natural, nós não nascemos com ela, mas a internalizamos conforme vivemos em sociedade.
Ela é produzida e reproduzida, nós a aprendemos e também a modificamos, pois ela não é estática. Desde a linguagem, as ideias, a escrita, as artes, as crenças, o modo de nos relacionarmos com o nascimento, o crescimento e a morte, até a maneira de realizar as atividades mais básicas do cotidiano, como trabalhar, comer, vestir-se e divertir-se, tudo que fazemos faz parte de um ambiente simbólico em que fomos ensinados e que também adaptamos e transformamos em nossa socialização.
O saber, o fazer e o conviver são desenvolvidos de modo a criar padrões de comportamento. Nós nos ajustamos a esses padrões, mas também criamos novos padrões, novas gírias, novas músicas, novas formas de dançar e interagir, modificações no realizar das atividades e no ambiente. A tecnologia, por exemplo, tem modificado profundamente o nosso dia a dia e nossos relacionamentos, isso é a cultura em movimento.
Contracultura, em termos gerais, é uma postura radicalmente crítica à cultura vigente. Nessa concepção abrangente, de uma contestação não convencional à cultura hegemônica, ela aparece de tempos em tempos vinculada à crítica social. Quando isso acontece – ainda que inicialmente seja revigorante e que o choque de ideias e comportamentos possa gerar mudanças, novos paradigmas de pensamento e padrões de conduta –, à medida que ela cresce, é assimilada pela indústria cultural, que esvazia seu componente crítico e a transforma em mercadoria.
Por outro lado, essa mesma indústria é o meio pelo qual movimentos contraculturais conseguem amplificar o alcance de suas ideias. Assim, desde o maior e mais importante movimento histórico de contracultura dos anos 60 até os movimentos contestadores que surgem hoje, há uma relação de ambivalência com os meios de produção e circulação da cultura de massas.
Por Milka de Oliveira Rezende
Contracultura e a juventude brasileira
A contracultura foi um movimento cultural da juventude que influenciou diversos artistas brasileiros na produção de novos ritmos e costumes.
A juventude representa possibilidades de mudanças e inovações na sociedade. Nas décadas de 60 e 70, jovens de várias partes do mundo iniciaram uma fase conhecida por movimento de Contracultura. Aproveitando as mudanças pelas quais a humanidade estava passando, como a descolonização da África e da Ásia e, principalmente, a explosão do maio de 1968, em Paris, a juventude mundial inaugurou uma era de rebeldia e de desapego material.
A principal característica do movimento de Contracultura foi a profunda crítica ao sistema capitalista e aos padrões de consumo desenfreado. Os jovens que integraram esse movimento de contestação aos valores morais e estéticos da sociedade global promoviam revoluções em seus modos de vestir. Suas roupas e penteados tornavam-se símbolos desse universo paralelo que eles elaboraram para romper com os modismos capitalistas das elites.
Os festivais de Rock, o consumo de drogas e a postura underground afirmavam a identidade desses jovens que por meio da arte e da música mostravam suas posições e suas alternativas de vida. Músicos como Jimi Hendrix e Janis Joplin entoavam o hino de luta por um mundo mais poético e menos incerto. Esses movimentos contestatórios chegaram ao Brasil dando origem ao grupo chamado de “Tropicália”, que contava com artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Tom Zé.
Esse movimento musical no Brasil inovou bastante a música popular brasileira, trazendo em suas letras versos irreverentes que rompiam com o tipo de música feito até então. Em suas roupas e estilos também havia a influência do estilo hippie que contestava os padrões elitistas da sociedade. O cinema brasileiro, com o cineasta Glauber Rocha, contribuiu para o nascimento do chamado Cinema Novo, em que os filmes criticavam a pobreza e as desigualdades sociais no Brasil.
Não se pode deixar de mencionar também o importante papel que o escritor José Agrippino teve na difusão de ideias revolucionárias através de seus trabalhos, pois ele retratava temas centrais sobre alguns personagens, como Che Guevara, sinônimo de ideais socialistas. Essas inovações inspiraram artistas brasileiros mais adiante, como foi o caso do poeta da música Raul Seixas, que gritou ao mundo versos como “Viva a sociedade alternativa”, empolgando o surgimento de bandas de rock and roll no Brasil a partir da década de 1980. Assim, outros hinos foram entoados em solo brasileiro criticando temas relacionados à política e à desigualdade social, como nos casos das bandas Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs etc.
A contracultura nesse sentido seria uma forma de contestação dos padrões elitistas vigentes no mundo. A prioridade dos jovens que encabeçavam esses ideais era a de criar novas maneiras de viver e novos estilos que se diferenciassem dos modelos eruditos das classes dominantes. No Brasil, portanto, houve representantes que soltaram sua voz através de sua arte, como uma maneira de criar, antes de tudo, outra cultura fora dos padrões dominantes.
Por Fabrício Santos
Gilberto Gil fez parte do movimento musical Tropicália
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